sexta-feira, 8 de julho de 2011

Responsabilidade

- O que deu certo através do meu próprio trabalho é mérito meu. Aquilo que, pelo meu ato livre, chegou a fracassar, é culpa minha, será marcado na minha consciência como um déficit. Qualquer acontecimento, para cuja ocorrência houve a minha participação, está situado entre os pólos do mérito e da culpa: ou será creditado a meu favor, ou coloca-me em má situação diante de mim ( ou também dos outros), contanto que minha participação tenha ocorrido como pessoa livre.

Ser livre significa que eu me decidi e agi a partir do pleno conhecimento do que se tratava e em que tomaria parte. E nestes eventos, em que tenho um papel a cumprir, que transparece de forma mais clara quem eu sou. Minha reação, minha resposta ao sentido da situação (se respondo a ele e como respondo, ou se o ignoro) produz aquela luz sob a qual me encontro diante de mim e dos outros. Pois como homem livre não agi em nome de alguma outra pessoa, não agi como ferramenta sob a coerção de alguém.

Eu, e exclusivamente eu, deixei minha marca pessoal no acontecimento, escrevi-a com minha própria letra. Como fui eu quem quis e conseguiu fazê-lo, continua mérito meu mesmo que uma outra pessoa considere o sucesso como seu, ou quer passá-lo como sendo seu. E é culpa minha se cometi uma injustiça mesmo que os outros vejam a ocorrência de forma diferente. Se eu agi livremente, não posso responsabilizar nenhuma outra pessoa (empurrando a culpa) e nenhuma outra pessoa pode assumir a responsabilidade (assumindo o mérito). O ato ficou inseparável da minha pessoa. Ele é a expressão da pessoa autônoma e verdadeira, e dos objetivos aos quais se sente ligada.

Ser responsável significa que entro no jogo. Em outras palavras, a responsabilidade surge quando um assunto tem a ver comigo. Quando algo depende de mim (como ajo e se ajo), portanto, sempre que eu tenho que tomar decisões, encontro-me no centro da responsabilização. Toda responsabilidade pressupõe a liberdade da pessoa. Assim, ninguém pode tornar-se culpado por algo que aconteceu apesar de todos os seus cuidados, ou contra sua vontade, ou por algo que a própria pessoa não fez. Nestes casos, não se trata de culpa e, assim, também não existe a culpa coletiva; discutível neste caso seria apenas a responsabilidade legal.

A liberdade e responsabilidade estão inseparavelmente unidas, são os dois lados de um mesma moeda. Ser livre significa tomar decisões próprias e, assim, ser o causador de um resultado. O ato livre implica necessariamente a responsabilização, independentemente de a pessoa estar ou não ciente disso. Esta responsabilização fundamental é a base para a responsabilidade concreta numa determinada situação.

A responsabilidade é precedida pela liberdade. Ao examinarmos este pensamento sob um outro ângulo, chegamos à conclusão de que, na ligação inseparável da liberdade com a responsabilidade, a questão é como a liberdade deve ser empregada de modo que tenha sentido. Ser livre pela liberdade em si leva ao vazio total e à falta de compromisso. Se fosse apenas pela liberdade em si, nada mais poderíamos fazer, pois então imediatamente desistiríamos dela através de uma decisão.

Já vimos anteriormente (cf. cap. 1 e 2) que, de qualquer maneira, precisamos nos decidir. E verificamos que a melhor decisão possível é chamada de "sentido" (cf. cap. 3 e 4). O melhor aproveitamento de nossa liberdade seria usá-la para o sentido da situação, deixando que ela se dissolva numa decisão pelo sentido. Desta maneira, o vazio de ser "livre de" transforma-se na plenitude de ser "livre para". O aspecto negativo da liberdade é substituído por um positivo. A liberdade foi preenchida com um sentido — o sentido da liberdade é a responsabilidade.

No final do quarto capítulo, discutimos uma atitude diante da vida que seria como que a chave para toda a busca de sentido. Dissemos que, no fundo, e desde o começo, o homem é "interrogado pela vida, e à vida (tem que) responder" (Frankl, 1982, p. 72; em português: Frankl, 1986, p. 96). Ao responder às "questões vitais" existentes, ao executar as tarefas e ao realizar valores vivências, nós os responsabilizamos perante a vida. A responsabilidade está no responder conscienciosamente às questões do sentido.

Com isso, e também pelas exposições neste livro, já está respondido para que o homem é responsável: para a realização do sentido, que é dado pelas possibilidades de valor em cada situação.

E perante quem o homem é responsável? Diante de qual instância ele tem responsabilidade? "Contudo, quem pode responder esta questão pelo outro? Não tem finalmente cada um que decidir por si esta última questão?" (Frankl). Então não haverá resposta? — É possível mostrar a direção da resposta, da mesma forma que o foi possível por ocasião da pergunta "para quê" o homem seria responsável. Afinal, também não foi dito o que seria concretamente o sentido, pois este depende da situação da pessoa, e não pode ser determinado por outro. Por isso, a resposta precisa limitar-se a indicar como este sentido pode ser encontrado.

Diante de que, em princípio, seria o homem responsável? Ele é responsável perante o valor mais elevado que conhece em sua vida. Para uma pessoa, este pode ser o valor que ela própria é, ou seja, sua consciência. Uma outra pode se sentir responsável perante uma pessoa amada, diante da qual quer se mostrar como sendo digna. Para uma terceira pessoa, é o seu Deus a quem quer mostrar bons resultados. Assim, generalizando, podemos dizer que somos responsáveis diante daquilo que a nossa consciência percebe.

A responsabilidade é a minha resposta ao respectivo sentido, uma resposta que esteja em ressonância com meu valor mais elevado. Assim, a responsabilidade nada tem a ver com exercícios obrigatórios que uma outra pessoa possa exigir de mim. Responsabilidade é um conceito de liberdade. Portanto, não pode ser confundida com prescrições e leis.

A responsabilidade é a expressão de minha ligação com uma pessoa, com uma idéia ou com uma causa. A responsabilidade é um conceito de relação! A extensão em que assumo responsabilidade, ao investir nela meu tempo, esforço e preocupação, demonstra qual o valor que atribuo ao objeto de minha responsabilidade.

Ser responsável significa dedicar-se. Querer dedicar-se e empenhar-se por algo é assumir uma obrigação voluntariamente. Ser responsável por algo significa amá-lo, na consciência de, com isso, estar vivendo no sentido de meu valor mais elevado. Responsabilidade significa engajamento pelos meus valores.

Na ação responsável, culmina a independência da pessoa, ao conduzir a liberdade ao seu sentido. Pois a vida sem responsabilidade é como se fosse "uma vida não vivida", é uma vida presenciada, mas não vivida.

Há pessoas que receiam assumir uma responsabilidade autônoma. Têm medo, pois muitas vezes nela vêem uma coerção, uma instância diante da qual deveriam renunciar à sua liberdade e poderiam perder seus objetos de estima. Ao falar com estas pessoas, é preciso abordar o assunto da responsabilidade com muito tato, sem querer impor-lhes qualquer responsabilidade, pois esta é fruto da liberdade pessoal.

Justamente por terem sido coagidas, essas pessoas têm, às vezes, um temor de assumir sua responsabilidade e sua própria vida. Por isso, é tão importante saber que a responsabilidade dificilmente pode ser ensinada através de punição ou ameaça. É preciso que nos sintamos "puxados" pela responsabilidade. Para poder assumir responsabilidades, há necessidade de duas condições.

É preciso vê-la e reconhecê-la em sua vida e é preciso que se tenha tido prática em assumir responsabilidades para estar a altura dela. É importante despertar a consciência da responsabilidade, fruto da liberdade. Não pode ser de forma impositiva, acusatória, mas questioná-los, ajudá-los a refletir, a desejar, a dar passos.

FONTE BIBLIOGRÁFICA
"VIVER COM SENTIDO" - Alfred Langle



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por
Escola de Formação Shalom
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